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Brincar com os filhos faz bem à saúde

20.05.2013
  • Ciência e Conhecimento , Compete

Estudo financiado pelo COMPETE e pela Fundação para a Ciência e Tecnologia relaciona brincadeiras entre pais e filhos com diminuição de problemas comportamentais.

Síntese

Um estudo da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra comprovou que brincar 10 minutos diários com os filhos em idade pré-escolar, sem direito a fazer mais nada em simultâneo, e de forma cooperativa, contribui para reduzir distúrbios de comportamento nas crianças.

O projeto, financiado pelo COMPETE – Programa Operacional Factores de Competitividade e pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), explica que estas brincadeiras, se feitas em exclusivo, contribuem para a redução de Perturbações Disruptivas de Comportamento tais como:

- hiperatividade;

- défice de atenção;

- oposição (a criança opõe-se a qualquer ordem do adulto);

- agressividade.

O estudo teve como objetivo testar, em Portugal, o impacto e eficácia do programa americano 'Anos Incríveis' (http://www.incredibleyears.com), em figuras parentais de crianças dos três aos seis anos de idade, com problemas de comportamento externalizante diagnosticados e envolveu 125 mães e pais e outros cuidadores (avós), de Coimbra e do Porto, indicados por pediatras, psicólogos e jardins-de-infância.     

Enquadramento no COMPETE

O supracitado estudo da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra é financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia e cofinanciado pelo FEDER (Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional), através do COMPETE – Programa Operacional Factores de Competitividade.

Trata-se de um projeto no âmbito do SAESCTN - Sistema de Apoio a Entidades do Sistema Científico e Tecnológico, com um investimento elegível de 158 mil euros, correspondendo a um incentivo FEDER de 135 mil euros.

Descrição

O programa "Anos Incríveis", desenvolvido há várias décadas nos Estados Unidos e aplicado em vários países do mundo - no Reino Unido, na grande maioria dos países nórdicos e até na China, na Palestina e na Nova Zelândia - não tem "fórmulas mágicas para uma família feliz, mas ajuda muito".

   

"É um guia que oferece aos pais um conjunto alargado de competências para cuidar melhor das crianças com características que se podem tornar desadaptativas", diz Maria Filomena Gaspar, uma das coordenadoras do estudo iniciado em 2010, na sequência de outros estudos desenvolvidos entre 2003 e 2009, que abrangeu a tradução e adaptação do programa americano à realidade portuguesa e aplicações voluntárias na comunidade, incluindo a grupos em vulnerabilidade social.

Apostando numa técnica bem conhecida do jornalismo, a pirâmide invertida, ao invés de dar ordens e impor castigos às crianças que se portam mal, os pais adotam estratégias positivas.

Figura: Pirâmide parental do programa Incredible Years (Webster-Stratton)

 

Pirâmide parental


"Colocam óculos cor-de-rosa e assumem-se como 'detetives  do bom comportamento', treinando competências como elogiar os filhos, brincar  alguns minutos com eles, recompensar a criança, estabelecer regras e limites  com calma e mesmo ignorar alguns dos comportamentos negativos porque uma  birra não faz mal a ninguém", explica ainda a especialista em Psicologia  da Educação.

Resultados

Os primeiros resultados do estudo, que incluiu 14 semanas de trabalho  intensivo com cada um dos grupos de pais, revelaram que o programa é eficaz  em Portugal, tendo-se registado a redução de sintomatologias de hiperatividade,  défice de atenção e oposição e desafio, agressividade e impulsividade, assim  como um aumento das competências parentais.

Estima-se que seis a 15% das crianças apresentem sintomas clínicos de perturbações de comportamento, mas em contexto de risco  social a percentagem aumenta, podendo atingir os 35%.

Embora o estudo se tenha focado na intervenção em famílias de crianças com diagnóstico clínico, as investigadoras defendem que o programa também é essencial para atuar ao nível da prevenção de futuros comportamentos desviantes.

Todos os pais deveriam ter acesso ao programa nos centros de saúde, tal como têm acessos a vacinas, ou em outros locais na comunidade, como por exemplo as crehes, jardins de infãncia e escolas.

Ao contrário de outros países que apostam na prevenção e intervenção baseada na evidência, Portugal investe na remediação e na medicação, seguindo uma política de resolução a curto prazo.

Conclusão

Considerando a filosofia “piramidal” do programa “Os anos incríveis”, centrada na promoção de relações positivas entre figuras parentais e crianças, tendo na base uma estratégia de “brincar cooperativo”, pode-se afirmar que brincar 10 minutos de forma cooperativa, seguindo o ritmo da criança, juntando comentários descritivos e elogios, num contexto familiar caracterizado pela previsibilidade (regras claras e limites bem estabelecidos) em que a criança é coresponsabilizada pela resolução de problemas e objeto de consequências quando a sua escolha é não cumprir as ordens ou não respeitar os limites, faz bem à saúde das crianças, da sua família e da sociedade em geral.

Desafio

Qual o efeito adicional de envolver os educadores de infância, ao mesmo tempo que são envolvidas as figuras parentais, numa versão do mesmo programa?

Esta questão está, ainda, por responder. Mas é por pouco já que a divulgação destes resultados está para breve.

Por Cátia Silva Pinto | Núcleo de imagem e Comunicação