O programa “A Fábrica de Calçado do Futuro” foi responsável pelo aparecimento de uma nova geração de tecnologias e equipamentos (cerca de 100), que rapidamente se impuseram no mercado português e mundial e que permitiram à indústria portuguesa de calçado tornar-se muito provavelmente, na indústria de calçado mais moderna do mundo no fabrico de artigos de moda de gama média/alta, o objetivo central do programa.
Tratou-se sobretudo de investir em tecnologias para aumentar a produtividade e a competitividade e melhorar a flexibilidade e capacidade de resposta das empresas e tornar possível um novo paradigma de concentração em pequenas encomendas, expedidas rapidamente para a pequena distribuição e retalho.
A globalização e entrada da China na OMC reforçou o papel da Ásia, que passou a concentrar mais de 80% da produção mundial, e em particular da China que responde por cerca de 60% da produção mundial.
As grandes cadeias multinacionais de distribuição e comercialização que detêm pontos de venda em número significativo são atores importantes e interessados na produção de grandes quantidades de calçado ao preço mais baixo. Por isso, os interesses da grande distribuição e da grande produção estiveram e assim continuarão convergindo para que a Ásia continue sendo o centro produtor por excelência. Este movimento consolidou-se de tal forma nos últimos anos que hoje a produção de equipamentos, materiais e componentes necessários ao fabrico daqueles produtos está igualmente concentrada na Ásia.
Por isso, a partir de 2007 foi necessário implementar um novo paradigma que permitisse às PME portuguesas criar novas vantagens competitivas e um novo nível de excelência, nomeadamente p produção individualizada e de micro e pequenas encomendas, aposta em artigos técnicos de elevado desempenho, desenvolvimento de artigos de elevada qualidade com design sofisticado.
Fabrico e expedição rápida de produtos de nicho, aposta na criação de marcas próprias, venda direta ao pequeno retalho e a pontos de venda independentes, aposta em artigos bio sustentáveis e biodegradáveis em atividades de investigação e desenvolvimento de materiais, de biomecânica, de análise do conforto, entre outros.
O Programa ShoeInov
Em 2007, o Programa Fábrica de Calçado do Futuro deu lugar ao Programa ShoeInov com alargamento da intervenção a outras áreas criticas. Para além dos equipamentos desenvolvidos, desta feita, grande parte do destaque estará directamente associado ao desenvolvimento de novos materiais. Cm efeito, o Cluster Tecnológico do Calçado foi responsável pelo lançamento de mais de 100 novos materiais à escala mundial, nomeadamente peles ecológicas, biodegradáveis ou livres de crómio, solas termoplásticas transparentes, anti deslizamento, anti estáticas ou resistentes ao fogo, materiais flexíveis com revestimento a cortiça únicos no mundo, Materiais policromáticos que mudam de cor com a temperatura ou radiação luminosa, elastómeros vulcanizáveis para processamento por injeção e colas e produtos de acabamento de base aquosa;
A incorporação destes materiais avançados possibilitou o fabrico de calçado de elevado desempenho, satisfazendo critérios rigorosos de qualidade, conforto, segurança e proteção ambiental, e ajudando a consolidar a excelente imagem do calçado português no panorama mundial.
Leandro de Melo acredita que “Os resultados desta estratégia estão à vista com os ganhos de cota de mercado nos países mais desenvolvidos, relativamente aos seus competidores mais diretos, apesar da difícil conjuntura económica mundial”. Na óptica do Diretor Geral do CTCP “o sucesso da indústria de calçado deve medir-se pela capacidade de comercializar e tirar proveito das inovações e ideias e de gerar resultados superiores aos dos seus concorrentes diretos”. Com efeito, “ao longo dos últimos anos, a indústria portuguesa de calçado foi capaz de alterar a sua imagem junto dos consumidores e fazedores de opinião, adquirindo uma merecida notoriedade na produção de calçado de elevada qualidade, e justificar o preço médio de venda que é já o 2º mais elevado do mundo. As exportações têm crescido, apesar da difícil conjuntura económica, nomeadamente na Europa para onde se dirigem mais de 80% das exportações de calçado”. Esta evolução não seria possível sem que um conjunto significativo de empresas tivesse implementado processos significativos de inovação. Sucessos isolados não seriam suficientes para renovar toda uma fileira industrial que tem um volume de produção de cerca de 2 mil milhões de euros e a exporta mais de 90% da sua produção.
O Programa FootInov é o futuro do setor para a próxima década. Visa consolidar Portugal como um ator competitivo e global no negócio do calçado, artigos de pele e acessórios de moda, através da inovação, radical ou incremental, seja no desenvolvimento de materiais e componentes, nas aposta em artigos de consumo com elevado design e desempenho ou no desenvolvimento de novos equipamentos e tecnologias e na criação de unidades de produção de classe mundial.
O Programa FootInov pretende dotar as empresas de novas capacidades e competências, explorando as sinergias estratégicas e operacionais existentes na investigação e desenvolvimento, na engenharia de produtos e de processos e no marketing, num contexto tecnológico, empresarial e educacional que despolete uma verdadeira espiral de inovação.
O Programa FootInov 2020 será por isso constituído por diversos subprogramas que intervêm nas diversas áreas críticas de sucesso da fileira. Devem referir-se desde já os subprogramas InoMat (para odesenvolvimento de novos materiais, componentes e acessórios), ProdDesign (destinado às áreas de design e inovação de novos conceitos e produtos de consumo, EquiTech (desenvolvimentos de bens de equipamento e tecnologias fabris e EcoDev (subprograma ambiental e de desenvolvimento sustentável).
Os desenvolvimentos FootInov serão também importantes para a criação de novas empresas, nomeadamente o « desenvolvimento de Ateliers Oficina de produção de calçado e marroquinaria oferecem oportunidades de criação de microunidades por parte de estilistas, designers e técnicos qualificados.
Fonte: Jornal APICCAPS