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Barómetro de Inovação revela que Portugal tem potencial desperdiçado

12.03.2012
  • Acções Colectivas
  • Economia

Portugal tem falta de capacidade para transformar o potencial de inovação em resultados concretos com impacto económico-social. É este perfil "desperdiçador" que faz de nós um país Cigarra neste Barómetro.

O Barometro de Inovação foi desenvolvido no âmbito do projecto “Mobilização para o Desenvolvimento Sustentado da Inovação Empresarial”, enquadrado nas Acções Colectivas do COMPETE, envolvendo um investimento total elegível de 571 mil euros, correspondendo a um incentivo FEDER de 400 Mil euros.

Globalmente, Portugal encontra-se na 30.ª posição entre os 52 países analisados no Barómetro de Inovação da COTEC Portugal, quanto ao seu desempenho em matéria de inovação.

Na segunda edição, divulgada no final de janeiro pela Associação Empresarial para a Inovação, Portugal desceu um lugar em relação ao ano anterior. E, em termos globais, o País classifica-se com um valor muito próximo da média (3,81), tendo mesmo subido 0,12 pontos, para 3,64.

Na perspetiva de Daniel Bessa, diretor-geral da COTEC Portugal, o aspeto menos positivo destes resultados é que "Portugal vai perdendo qualidade de desempenho à medida que se avança, de montante para jusante, na ‘cadeia de valor da inovação': é melhor em matéria de Condições e de Recursos do que de Processos e Resultados (um problema de produtividade ou de eficiência dos processos)".

E, "no domínio da deceção, custa ver Portugal num modesto 48.º lugar em matéria de resultados económicos (emprego de qualidade, exportações de elevada tecnologia)", lamenta. Classificado em 40.º lugar nesta matéria em 2010, Portugal foi ultrapassado, em apenas um ano, por oito países.

“Cantavas? Pois dança agora” disse a formiga à cigarra, na fábula de La Fontaine. Portugal tem falta de capacidade para transformar o potencial de inovação em resultados concretos com impacto económico-social. É este perfil ‘desperdiçador’ que faz de nós um país Cigarra no Barómetro de Inovação da COTEC. Mas, mesmo tendo descido uma posição no ranking, estamos tão distantes da concretizadora formiga (gigante) da China e da madura abelha Suíça, como do conformado caracol brasileiro ou da lagarta Índia (país onde tudo falha).

“Não é possível gerir o que não se mede”

Interessada “em potenciar a inovação no nosso País”, a COTEC criou um barómetro de medição do desempenho que permite avaliar o estado-da-arte da mesma.

O Barómetro de Inovação, que integra 52 países da OCDE, União Europeia, Mercosul e BRIC, é um instrumento que incorpora informação relativa a 67 variáveis, agrupadas em dez pilares:

  • Capital Humano,
  • Financiamento,
  • Investimento,
  • Networking e Empreendedorismo,
  • Aplicação de Conhecimento,
  • Incorporação de Tecnologia,
  • Impactos da Inovação,
  • Impactos Económicos,
  • Envolvente Institucional
  • Infraestrutura e Utilização de TIC

e em quatro grandes dimensões:

  • Condições,
  • Recursos,
  • Processos,
  • Resultados.

A análise realizada em colaboração com a Everis, associada da COTEC, parte de um modelo de indicadores de IDI (Investigação, Desenvolvimento e Inovação) que permite desenvolver estudos e apresentações agregadas, através da divulgação dos dados estatísticos obtidos. Afinal, e como sublinha ao VER Daniel Bessa, ““de acordo com as melhores práticas, não é possível gerir o que não se mede”.

Com um problema de produtividade e eficiência, Portugal é melhor em matéria de Condições e de Recursos do que de Processos e Resultados

Pois o Barómetro de Inovação não só mede como convida a refletir sobre o tema, a partir das opiniões expressas por um painel de “líderes” dos vários quadrantes da sociedade portuguesa, que comenta as práticas de gestão de inovação e os outros dados sobre inovação empresarial avaliados no relatório.

Para Miguel Fernandes, Sénior Manager de Business da Everis, a “grande mais-valia” do Barómetro de Inovação é que este modelo de indicadores de IDI possibilita retirar conclusões muito mais interessantes sobre os perfis comportamentais dos países em Inovação, identificando padrões de eficiência e de eficácia, tendo em conta os níveis base de condições e recursos que possuem”.


Um País ‘desperdiçador’

Em concreto identificaram-se, face aos comportamentos exibidos pelos 52 países, seis perfis diferentes de Inovação que se explicam “com uma simples analogia ao reino animal”. Portugal é um país Cigarra, ou seja, desperdiçador, pois tipicamente apresenta um valor médio para Condições e Recursos, que não se materializa num valor do mesmo nível para Processos e Resultados.

Devido à sua “capacidade de voar”, a Cigarra apresenta Condições e Recursos acima das do Caracol (onde estão, por exemplo, a Argentina, a Espanha e a Grécia) mas, devido a alguma falta de capacidade de “trabalho” e “concretização”, os Processos e Resultados encontram-se aquém dos da Abelha (onde se encontram, por exemplo, a Suíça, o Canadá, os EUA e a Finlândia).

No pólo oposto encontram-se países como a China ou a República Checa que são Formigas, “ou seja, concretizadores, pois têm a capacidade de materializar o baixo valor médio de Condições e Recursos, num valor médio elevado para Processos e Resultados”, conclui. Ainda que sem a “capacidade de voar” da Abelha, a Formiga consegue exibir Processos e Resultados de nível superior aos do Caracol, muito devido à sua capacidade de “trabalho” e “concretização”.

Quem lidera no reino animal?

Cigarra  Os países que se enquadram neste perfil, tipicamente apresentam um valor médio para o conjunto de Condições + Recursos, que não se materializa num valor do mesmo nível para o conjunto de Processos + Resultados. Devido à sua “capacidade de voar”, a Cigarra apresenta Condições e Recursos acima das do Caracol, mas devido a alguma falta de capacidade de “trabalho” e “concretização”, os Processos e Resultados encontram-se aquém dos da Abelha.   
Abelha Este perfil comportamental concerne os países que exibem valores médios elevados para ambos os conjuntos de dimensões Condições + Recursos e Processos + Resultados. Apresentando Condições e Recursos acima dos da Formiga (inerentes à sua “capacidade de voar”), devido à sua capacidade de “trabalho” e “concretização”, a Abelha exibe Processos e Resultados acima dos da Cigarra.
Caracol No quadrante deste perfil, enquadram-se os países que apresentam valores médios baixos para ambos os conjuntos de Condições + Recursos e Processos + Resultados. Face ao facto de não “ter asas”, o Caracol exibe Condições e Recursos abaixo dos da Cigarra e, para além disso, sendo “lento” e com pouca capacidade de “trabalho” e “concretização”, apresenta Processos e Resultados abaixo dos da Formiga.
Formiga Neste perfil comportamental são considerados os países que têm a capacidade de materializar o baixo valor médio do conjunto de dimensões Condições + Recursos, num valor médio elevado para o conjunto de Processos + Resultados. Ainda que sem a “capacidade de voar” da Abelha, o que lhe confere menos Condições e Recursos que a anterior, a Formiga consegue exibir Processos e Resultados de nível superior aos do Caracol, muito devido à sua capacidade de “trabalho” e “concretização”.
Aranha Os países que se enquadram neste perfil evidenciam um equilíbrio entre os dois conjuntos de dimensões, Condições + Recursos e Processos + Resultados, pautando-se os mesmos por valores relativamente altos.
Lagarta
À semelhança do que acontece com o perfil de “Aranha”, também aqui os países revelam um equilíbrio entre os dois conjuntos de dimensões, apresentando os mesmos valores relativamente baixos.

Comparativamente aos países líderes em inovação (a Suíça, por exemplo), o gap verificado entre os desempenhos destes e de Portugal “é considerável”, nomeadamente nas vertentes de Processos e Resultados, observando-se uma maior proximidade nas áreas de Condições e Recursos, sublinham os resultados do Barómetro. Conclui-se que apesar de Portugal dispor das condições necessárias com vista à promoção de IDI, não utiliza de forma eficaz e eficiente essas potencialidades na prática da inovação.

Mas, em termos de posicionamento global, Portugal tem um desempenho muito perto da média dos 52 países analisados. E em termos do agregado da Europa do Sul, é mesmo o país melhor posicionado.

Ao nível dos pilares considerados, estamos melhor posicionados na envolvente institucional, financiamento e TIC (infraestrutura e utilização). E pior posicionados a nível de capital humano, aplicação de conhecimento e impactos económicos. É neste último indicador que Portugal obtém a pior classificação.

Face aos resultados obtidos para o ano transacto, Portugal apresenta uma subida de duas posições no ranking de países, na dimensão Condições, tendo subido em valores absolutos de 4,50 para 4,72. Desta subida resultou um maior distanciamento positivo face à média global (4,61), apresentando agora Portugal o valor mais elevado para os países da Europa do Sul.

No que concerne a dimensão Recursos, Portugal registou um aumento no seu índice de 3,61 para 3,84, o que originou a subida de uma posição no ranking desta dimensão, face a 2010. Tal como no ano passado, Portugal continua abaixo da média global, de 3,88, apresentando, contudo, um valor muito próximo da mesma. Relativamente a agrupamentos de países, Portugal encontra-se apenas três posições abaixo da média da Zona Euro, e apresenta-se novamente como líder dos países da Europa do Sul, revelam as conclusões do Barómetro da COTEC.

Também na dimensão Processos Portugal evidencia uma melhoria, face ao ano de 2010. Com um índice de 3,33, o País subiu duas posições no ranking, tendo passado da 28ª (3,18) para a 26ª posição. Apesar de se encontrar ainda ligeiramente abaixo da média global, é de notar a posição cimeira de Portugal face aos restantes países da Europa do Sul.

Finalmente, na dimensão Resultados, Portugal apresenta a maior queda no ranking face ao ano de 2010. Com um índice de 2,97, Portugal desceu onze posições, tendo passado da 30ª para a 41ª posição, afastando-se um pouco mais da média dos países da Europa do Sul (3,15). Esta queda é sustentada pelo seu desempenho nos pilares Impactos da Inovação e Impactos Económicos.

Os melhores do sul da Europa

Comparativamente com outros países PECO (Eslováquia, Eslovénia, Hungria, Polónia, República Checa), Portugal tem um desempenho ligeiramente acima da média. Entre os países BRIC (Brasil, China, Índia e Rússia), Portugal revela um desempenho superior ao global, com exceção da China.
Globalmente, a Suíça, considerado país Abelha em virtude de apresentar valores médios elevados para as quatro dimensões analisadas, continua a ser quem apresenta melhor desempenho em termos de inovação, conseguindo um posicionamento dentro do top 10 em todas as dimensões e pilares considerados. Os países nórdicos, o Reino Unido, a Alemanha e os EUA completam o conjunto de países considerados mais inovadores, conclui, ainda, o Barómetro.

No extremo oposto, países como o Brasil, a Grécia ou a Espanha são países ‘caracol’, já que apresentam valores médios baixos nas várias dimensões. De uma forma geral, os países da Europa do Sul evidenciam melhor desempenho em termo de Condições e Recursos em detrimento de Processos e Resultados, e Portugal não é exceção. Mas, face aos restantes países da Europa do Sul, continuamos, como referido, a ser o país com melhor desempenho global, sendo apenas superados pelos restantes países na dimensão Resultados. O alinhamento entre o comportamento de Portugal e Espanha ao longo das 4 dimensões mantém-se, da mesma forma que essa relação se verifica entre Itália e Grécia, adiantam ainda os resultados do Barómetro de Inovação.

E assim se constata que apesar de manifestarmos falta de capacidade de concretização, continuamos com melhores resultados que “os nossos vizinhos de geografia” (Espanha, Itália, Grécia).

E não será também esta dificuldade em transformar o potencial de inovação em resultados com impacto económico-social (intrinsecamente ligada à falta de produtividade e eficiência) uma questão de mudança cultural? Resta um convite, que cada um ‘navegue’ por si no Barómetro de Inovação.


O que dizem os líderes da Inovação

O Painel de personalidades do Barómetro de Inovação da COTEC Portugal reflete a opinião de líderes que se pronunciam sobre as orientações e resultados das políticas de I&D e de inovação, com base num questionário com uma parte fixa e outra variável. A primeira destina-se a assegurar consistência inter-temporal. A segunda abre a possibilidade de o Painel se pronunciar sobre temas de atualidade em política de I&D e de inovação.

  • “Recursos Humanos qualificados e ausência de uma política de crescimento e competitividade são alguns dos principais constrangimentos nas áreas da Inovação” - Alberto da Ponte, Presidente Executivo da Sociedade Central de Cervejas
  • “É com agrado que constato uma gradual mudança de mentalidade relativamente à relevância da inovação, indicando claramente o aumento de importância que o tecido empresarial lhe confere, bem como o seu fomento por parte de instituições públicas” - Alexandre Soares dos Santos, Presidente do Conselho de Administração da Jerónimo Martins
  • “Entre os principais desenvolvimentos positivos das políticas de inovação em Portugal está a criação de um enquadramento favorável para as energias renováveis, o que potenciou a inovação a nível nacional” - António Vidigal, Director Geral da EDP e Presidente da EDP Inovação
  • “A inovação baseada no conhecimento é poucas vezes utilizada no sector produtivo tradicional em Portugal. Todos os casos de sucesso deveriam ser objecto de maior destaque” - Helena Nazaré, ex-Reitora da Universidade de Aveiro e Coordenadora da 3.ª Comissão Especializada Permanente do Conselho Nacional de Educação
  • “A criação de clusters de inovação e a melhoria da balança de pagamentos tecnológicos são os principais desenvolvimentos da inovação em Portugal” – Isabel Mota, Administradora da Partex Oil and Gás Corporation
  • “No campo artístico, território fundamental para a inovação, infelizmente a aposta foi quase nula, mas, ainda assim, elejo como muito positivo o programa INOV-ART” – Joana Vasconcelos, artista
  • “A baixa disponibilidade do tecido académico para se envolver pragmaticamente em projetos de I&D+I, não tem sido combatida por políticas públicas que incentivem decisivamente a alteração de atitude” - João Bento, Presidente Executivo da Efacec
  • “O reconhecimento da necessidade de interações sistemáticas entre empresas, ensino superior e centros de investigação estimula o empreendedorismo em Portugal” - João Caraça, Diretor do Serviço de Ciência da Fundação Calouste Gulbenkian e Professor catedrático
  • “Os indicadores de inovação mostram que Portugal teve o maior crescimento no Innovation Performance Index. No entanto, nos últimos meses, nada de novo ocorreu e o outlook nacional é pior” – João Picoito, Presidente da Nokia Siemens Networks para o Sul da Europa
  • “Por estranho que pareça, penso que a crise obrigará as empresas a apostarem mais e mais na inovação” - Nicolau Santos, Diretor-adjunto do Jornal Expresso
  • “Assisto com agrado aos progressos do Cluster da área da Saúde e considero também que haveria lugar à constituição de polos de competitividade em áreas tradicionais. Contudo, prevalece a inexistência de um clima favorável ao empreendedorismo, que estimule, efetivamente, a economia nacional” - Paulo Azevedo, CEO da Sonae
  • “Portugal tem que trabalhar bastante para competir a nível mundial. Contudo, a política de inovação tem criado centros de excelência de I&D, alguns deles únicos em todo o Mundo” - Zita Martins, Research Fellow da Royal Society no Imperial College London, Reino Unido