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Quais as diferenças entre um trabalhador e um empreendedor?

16.05.2013
  • Acções Colectivas

Não existe a cultura educativa de criar empreendedores em vez de trabalhadores por conta de outrem, nem nas pessoas, nem no mundo académico.

Somos treinados em Portugal para sermos trabalhadores em vez de empreendedores? A resposta é "sim". Pelo menos até agora. Existem muitas escolas, universidades e pequenos cursos que têm como objectivo transformá-lo num empreendedor, mas não existe a cultura educativa de criar empreendedores em vez de trabalhadores por conta de outrem, nem nas pessoas, nem no mundo académico.

No início da minha aventura empreendedora, quando falava sobre os meus desafios a alguns amigos ou familiares, o comentário mais comum que ouvia era: "mas por que é que tu não vais à procura de um trabalho normal, como todos os outros, algo estável, sem preocupações?" Em primeiro lugar, já não existem trabalhos estáveis. Esta teoria faz parte da história dos nossos pais. Em segundo lugar, não há trabalho que não traga preocupações. Em terceiro lugar, parece que arranjar um trabalho como "todos os outros" é algo vindo de uma mente racional e equilibrada, o que é falso.

Muitas das "startups" falham, é certo. Segundo os estudos que existem no mercado, 90% das empresas que iniciam a sua actividade no mercado falham antes de chegarem aos cinco anos de vida. Quanto aos restantes 10%, nove em cada dez falham antes de atingirem dez anos de vida, ou seja, apenas 1% das novas empresas sobrevive uma década, uma taxa que assustará qualquer pessoa que queira começar o seu próprio negócio e que pouco apoio proporcionará por parte daqueles, que à partida, já nos consideram uns extraterrestres.

Para os empreendedores que querem correr o risco, e que querem conquistar o seu sonho, tenho uma boa notícia. Se não fossem os extraterrestres dos empreendedores dificilmente se criariam os postos de trabalho que "todos os outros" ocupam, ditos por "trabalhadores normais". Estes esquecem-se que a empresa para a qual trabalham, por maior que seja nos dias de hoje, começou com muito poucas pessoas, com diferentes dificuldades, mas que acabou por crescer e produzir centenas ou milhares de postos de trabalho.

Um bom trabalhador, não significa um bom empreendedor. O perfil e conhecimento exigido a um trabalhador não se compara com aquele que é exigido a um empreendedor, sendo que este último deverá ser mais rigoroso, disciplinado, multifacetado, resistente à negação, persistente e, acima de tudo, bom gestor, aquilo que pode marcar a maior diferença. Saber gerir uma empresa não é o mesmo que saber gerir um trabalho enquadrado na empresa de outros.

Um trabalhador tem tempo e apoio para ganhar experiência profissional sem estar pressionado pela sobrevivência de uma empresa. Já o empreendedor tem de aprender tudo sozinho, com poucas orientações e com capital limitado que mantém a sua empresa viva, o que lhe condiciona o tempo disponível e o grau de sucesso. Aqueles que se iniciam muito jovens como empreendedores e sem experiência no mercado, correm ainda maiores riscos que outros que já vêm do mercado laboral com conhecimentos que evitam muitos erros.

Um trabalhador é maioritariamente treinado para produzir. Um empreendedor é um criador sem qualquer treino. A forma de pensar, organizar e executar é muito diferente de colaborador para empreendedor. O empreendedor tem de ter uma visão mais alargada e transversal em várias áreas da empresa, mercados, investidores, tendências ou estratégia. O trabalhador espera ser conduzido, enquanto o empreendedor tem de descobrir o seu próprio caminho.

Por pior ou melhor decisão que tome, e por mais ou menos recebimentos que a empresa alcance no final do mês, o trabalhador pode contar sempre com o seu ordenado. Infelizmente, hoje em dia começa a não ser verdade em alguns casos, mas felizmente ainda é a prática comum na maioria das empresas. O empreendedor, por melhor desempenho que tenha no seu trabalho, pode sempre ter o futuro da sua empresa condicionado pela falta de capital, motivada pela falta de recebimentos, que outros não resolverão por si.

Agora, as grandes questões são: você é um empreendedor? Consegue qualquer pessoa tornar-se num empreendedor à custa de muita formação? As respostas que pode encontrar sobre esta matéria são díspares . Um empreendedor não se faz. Quem tem o gene de empreendedor, aperfeiçoa-se.
 
 
Tome nota

  1. Não pense que, por ser um trabalhador que alcança grandes resultados na empresa para onde trabalha, isto significa que pode ter a sua empresa e passar igualmente a ser um grande empreendedor.
  2. Saber empreender também está relacionado com o saber sobreviver. Tem de estar atento a várias matérias em simultâneo para não "morrer" inesperadamente.

In: Jornal de Negócios - 16.05.2013